Aquela gaveta de pura realidade,
de pura sensibilidade, de puro amor. Guardadora de um tesouro inigualável e
possuidora de um segredo tão à vista de todos mas que à minha, estava tão
escondido, tão esquecido!
Aquela gaveta cheia de nada mas
que vinca a presença de uma lembrança inolvidável, que insiste em me chamar constantemente,
dia após dia e eu deixei de reparar que ela ali estava!
Aquela gaveta involucrada que só
a mim me pertence está acessível ao mundo curioso que tenta cuscar todo o seu
conteúdo precioso, de valor inquantificado e eu cego, enciumado com tanta curiosidade
em descobri-lo, esqueci-me da sua existência!
Aquela gaveta inquieta,
irrequieta e incansável que aos saltos está para que deslumbrado fique com todo
o seu conteúdo, quando penso que a vislumbro, desvio o meu olhar daquele tão
específico lugar!
Aquela gaveta repleta de
ternurentas palavras, promessas tão cheias de verdade e desejos tão sinceros,
insiste em aparecer mesmo quando me esqueço dela!
Perdoa-me se me esqueci de espreitar
aquela gaveta que tanto amor guarda!
Mergulhei no desconhecido e despreocupei-me em
entender o seu significado, mas viverei tentando ultrapassar qualquer
entendimento.
Darei ao desconhecimento e ao súbito da vida a oportunidade de
me renovar, mesmo sem saber se terei um glorioso fim.
Atormentado com os constantes desafios e com os improvisos que me surgem, desfrutarei da liberdade alheia para decidir se estou à altura deles, ainda que a desistência teime em reinar.
Terei a ousadia de correr atrás dos meus sonhos, para que possa açambarcar o risonho futuro que herdei.
No silêncio da noite e no
alvoroço do dia estás comigo e de mim nunca te distancias. Ainda que de difícil
acesso, cinges-te em mim, enroscas-te em mim e possuis-me de forma desigual. Desejo-te
com toda a força da minha natureza e fazes-me derreter com toda a tua energia
singular. Em ti me deleito e em ti busco tudo o que sempre sonhei: o teu regresso!
Embora saiba quem sejas, desconheço a tua complexidade, a tua essência, a tua
forma, os teus trejeitos, tudo o que te faz definir, mas sei que existes e que
em mim habitas. Sonho contigo todos dias, dormindo ou acordado, e surges sempre
na lembrança do desejo de te ter, para que a vontade de me abandonares nunca
seja razão para o fazeres. És dádiva que conquistei com tanto suor e com tanta
teimosia porque em nenhum momento quis desistir de ti. Ter-te é um direito que
possuo e eu para contigo tenho o dever de te valorizar, agradecendo pelo teu
regresso surpreendente, pois jamais prescindirei da tua eterna companhia! Confesso
que tive saudades tuas e agora que me cativaste, a dúvida persiste em pairar no
ar: vieste para ficar? Não me desiludas, felicidade minha!
Ó seu velhaco… Chega-te aqui que
te quero dizer umas quantas verdades…
Desiludiste-me e iludiste-me como
nunca o fizeste: deste-me mais tristezas do que alegrias, fizeste-me chorar
mais do que queria, destruíste os meus tão ansiados sonhos… Magoaste-me tanto!
O meu coração ferido ficou com tanta crueldade… Porque foste tão duro e tão
severo comigo? Só queria ter motivos bastantes para que o meu sorriso torcido
reivindicasse o seu trono e que o meu olhar murchado voltasse a brilhar como
uma estrela refulgente. Quando finalmente conseguia vê-los a brotar, maldades
me davas a dobrar! Que tristeza…
Deixaste-me mais indiferente,
mais frívolo, mais frio, mais distante, até nem me reconheço com tantos atos
desumanos que em mim praticaste, marcas que jamais serão apagadas.
Foste tão injusto, foste tão malicioso,
foste tão traiçoeiro! Pérfido e cruel é o que te faz definir e que faz sentir
repulsa de ti… Não merecia! Apunhalaste-me quando menos esperei! Descredibilizaste-me!
Fizeste-me desacreditar! Derrotaste-me! Fizeste-me sentir que perdi tudo e que
as conquistas fossem inalcançáveis… Para quê, pergunto-te eu?
Quando te digo que te quero dizer
umas quantas verdades, não é só para te dizer que magoado estou contigo, mas também
para te agradecer pelos momentos únicos que me proporcionaste. Foram mais as
derrotas do que as vitórias, mas a minha única vitória sobrepõe-se a todo o mal
que me trouxeste! Valorizo-te porque finalmente fiquei tão feliz pelas mudanças
que tu me ofereceste, significando um avanço na minha vida, uma ousadia que me
foi concedida e da qual me servi… E eu que tanto temo o desconhecido!
Com elas amedrontado e assustado
fiquei mas fizeram parte do meu crescimento enquanto petiz, aprendiz. Foi assim
que descobri de que material sou feito e o que vou ser no futuro risonho que
herdei.
Presenteaste-me com a vinda de
pessoas, com sucesso profissional, com descobertas que me deixaram deslumbrado…
Até fizeste com que a minha família ficasse maior, fizeste com que amizades
virassem ouro… Aos meus olhos, fizeste magia!
Hoje, estou mais feliz do que
nunca e como é bom sentir que essa felicidade me é tão merecida e que não me
foi emprestada… O meu coração está tão cheio de alegria, está a arrebentar de
emoção, a explodir de êxtase… Ainda estou incrédulo com o que de bom me deste!
Estou-te eternamente agradecido!
Nunca me senti tão amado, nunca
me senti tão desejado, nunca me senti tão especial, nunca me senti tão vivo! E tu,
és o verdadeiro responsável por provocares todos esses sentimentos.
Despertaste em mim uma enorme vontade
de mudar e o que tanto quero, é desabitar os meus hábitos e reinventar-me!
Tornaste-me diferente mas acho
que me tornaste numa pessoa melhor depois de tanta iniquidade… Inicialmente
foste mau, brusco, violento e julgo ter sido um grande passatempo para ti não foi?
O quanto não te deves ter rido à minha pala com tanta agitação maléfica na
minha vida… Mas depois, deves ter-te arrependido de tanto gozo e tanto proveito
face à minha desgraça que colocaste as mãos à consciência por veres que não me
era merecida tamanha perversão… Sim, porque ou és louco ou és perverso, só pode…
Ao teu novo irmão peço pouco, mas
apenas que faça com que perdure tal felicidade… Que faça manter tamanho amor…
Qua faça resguardar todo o tesouro que a mim me trouxe… Faz-lhe chegar a
presente mensagem, por favor! Não te peço mais do que mereço, mas o que peço, é
preservar e manter tudo o que de bom me deste! Ouve-me, escuta-me!
Ó rei do meu coração, és
imperador da minha vida, governador do meu sorriso, soberano da minha
felicidade! Dono do meu império, senhor dos meus sonhos, detentor das minhas
fantasias! Majestoso nas atitudes, soberbo nas palavras e gracioso nas
intenções, dás vida ao meu rosto dantes cansado e fazes iluminar o meu olhar
outrora entristecido. Irradias o meu dia e do meu pensamento nunca te distancias.
Rica alma possuis e afortunado me deixas com tanta vontade de me querer. Colorido
deixas o meu tão genuíno âmago e aromatizado deixas a minha tão pura natureza! Engaiolado
e preso às amarras da infelicidade estava e de rompante, com uma postura
corajosa, puseste-te à frente dos teus cavaleiros, pronto para batalhares por
mim! Libertaste-me, conquistaste-me! Trouxeste-me esperança e vontade de viver!
Serves-te da tua sabedoria, força, riqueza e honra para a ausência de limites
ser alcançada. Entendes as limitações do meu reino e nunca exerces o teu poder
fora das suas fronteiras. Encantado e admirado fico com a tão ousada fanfarrice
de minha majestade, pois trouxe o meu riso de volta, algo que em tempos,
pensara ser impossível. Ainda que desconhecido seja o nosso futuro império,
dúvidas não restam quanto à minha querença de ficar enlaçado a ti, meu rei. No
trono do meu castelo desejo que permaneças para imperares com a tua tão
merecida coroa.
Como apagar lembranças que me
deixaram tão feliz outrora mas que agora ao recordá-las me deixam tão triste? Memórias
tão contentes desejo que se dissipem para que eu possa avançar com a minha vida,
mas nunca pensei que fosse tão árduo fazê-lo… Quero? Não, mas sei que é o que
está certo! Certo? Dúvidas permanecem.
Imundo de recordações alegres está
o meu arruinado coração mas nem sei por começar para o tornar despido de quaisquer
sentimentos nefastos, outra vez. Sei que preciso de o limpar e de o arejar, mas
ao que parece, de auxílio necessito.
Reminiscências querem-se abalar e
desamparado me querem deixar com as minhas tão confidentes e impertinentes
palavras que também me traem. Parece que tudo me quer fugir e doí tanto perder
algo que para sempre declararei como perdido.
Foram tantas as peripécias que
intensificaram e deram sentido à minha vida tão descomplicada e tão simples e,
que agora, tendem a abandonar a minha mente tão revoltada para que consiga
caminhar em direção do meu tão ansiado e incerto futuro.
Sou possuidor de tantas incandescentes
emoções, tantas fúteis angústias, tantas mórbidas fantasias e tantas inúteis
memórias que fico amedrontado por estarem tão enraizadas e intrínsecas à minha
índole, pois só me fazem recuar. Mas o que eu quero é avançar, progredir e ninguém me explica como! Sozinho saberei.
Vocês taciturno me deixaram, levaram
o encanto que possuía em tempos e levaram o melhor de mim. Apagaram a luz que
tinha, extinguiram a chama ardente que havia em mim… Um ato severo para
vincarem a sua posição e me deixarem abalado.
Num pranto me desfaço como
reflexo da minha impotência em aceitar a minha nova e tão desconhecida
realidade, mas se para aniquilar o mal que tais lembranças provocam em mim
tenho que chorar vezes sem conta, jorradas serão muitos lágrimas até que a
felicidade seja atingida.
Decidi encerrar um ciclo, fechar
uma porta e terminar um capítulo. Resolvi deixar no passado marcantes momentos
que de forma súbita se transformaram em pó. Decidi deixar de ir à procura de razões
que conduziram ao término de determinados acontecimentos e de viver sentimentos
que outrora eram veementes. Resolvi deixar de estar parado, permitindo que a
vida tome o seu rumo despreocupadamente. Decidi deixar de me sentir culpado e
rancoroso com o que se foi embora e que não quer regressar. Resolvi deixar de estar
agarrado aos dissabores, às perdas, às derrotas e ao sofrimento, ainda que seja
legítimo não pontapeá-los. Decidi deixar de estar imerso na dor e deixar de
condenar aquele que a provocou. Resolvi desfazer-me de lembranças vincadas, dando
o consentimento para o aparecimento de outras que ocupem o lugar das olvidadas.
Resolvi abraçar a minha novata realidade e aceitar as imperfeições do mundo.
Decidi começar a substituir a raiva e o medo por algo que possa promover
esperança. Resolvi deixar-te partir sem que a tua ausência assombre a minha natureza humana.
Decidi e está decido que doravante, deixarei de ser quem era para
me transformar no que sou, custe o que custar!
Chegaste tu sorrateira, vagarosa
e silenciosamente! Vieste e nem dei por ti! Por onde andaste que nem ao perto
nem ao longe te vi? Porque decidiste aparecer agora? Porquê agora, pergunto-te
eu… Em nenhum momento esperei por ti… Em nenhum momento te desejei… Fiz de ti
prisioneiro a minha vida toda mas esqueci-me de ti! Cansaste-te? Agora assombras-me!
Achas bem? O teu silêncio assusta-me e fazes com que a minha mente dê voltas
sem fim em busca da razão da tua inesperada aparição. Fala comigo, peço-te,
fala comigo, explica-me tudo! Anos de batalhas conquistadas, de sonhos
realizados, de desejos concretizados e… Num ápice perco tudo? Ganhei tanto para
tudo perder?
Justiça, agora chamo-te! Onde
andas? Serve-te da tua imparcial parcialidade para vires ao meu encontro. Toda
a gente te censura e critica porque para fazeres o bem, o mal tens que provocar!
Auxilia-me e esbanja a tua sabedoria… Serve-te das tuas normas para sancionar
quem em mim provocou danos. Não é esta a tua função? Também não me ouves, pois
não?
Eu não pedi nada mais do que aquilo
que merecia, não reclamei nada mais do que aquilo que me pertencia, não desejei
nada mais do que aquilo que me era permitido desejar. Eu não pedi nada que não
estivesse ao meu alcance e agora pregas-me uma partida dessas? Diz-me que é
mentira e que não passa de um pesadelo demasiado sombrio, negro e medonho…
Como é que vou aprender a viver
contigo? Não conheço outra realidade… Não conheço o mundo nem o que me espera. Conseguirei
caminhar sozinho? Tenho tanto medo da solidão, de estar eternamente angustiado
e triste… Dói tanto!
Estou cansado de tanto deambular
pelo meu amarrotado coração! Estou cansado de vaguear pela minha enegrecida mente!
Estou cansado de andar nesse labirinto sem fim em busca de respostas, certezas.
Tantas foram as delícias que me
proporcionaste e agora só me trazes sofrimento, mas ao tomar consciência que na
vida tudo é assim, é que poderei seguir em frente, sozinho.
Agora sei que tudo, do nada, acaba
tal como começou. Uma pálida e estranha sombra paira sobre mim como sinal de
que o seu tempo já foi e de que é hora de seguir em frente para começar tudo de
novo. Serei eu capaz? Venceste-me agora e eu deixei… Mas espero que um dia seja
eu a vencer-te, servindo-me da coerção que a justiça me irá emprestar.
Desde os meus primórdios que a
vida me tem desafiado, testando a minha impaciente alma, confrontando-a com as
minhas tantas incertezas, inseguranças e fraquezas. Sempre ignorei o meu forte poder
de ultrapassar obstáculos, barreiras, impedimentos, incutindo em mim mesmo a
sensação de que sou incapaz de derrotar as minhas próprias limitações. Sempre optei
por percorrer os caminhos que me faziam desviar dos cruzamentos que me impunham
medo, pensado que assim se tornava mais fácil o meu percurso. Ontem fiz uma real
análise do que tinha feito para alcançar os meus objetivos, para realizar os meus
sonhos e cheguei à conclusão de que teria que continuar a aprimorar o que tenho
vindo a fazer pois descobri que lentamente, tenho vindo a conquistar o que sempre
almejei. Aquelas dificuldades que me pareciam tão inalcançáveis permitem-me
hoje, sentir que sou merecedor, um campeão capaz de ter o que quer ou de ser aquilo que mais sonha. Acredito que todos os obstáculos que se
deparam na nossa vida estão cobertos de uma vigorosa oportunidade para
tentarmos aperfeiçoar a nossa condição espiritual.
Sinto uma estranheza bastante
bizarra por sentir que hoje estou muito contente por ter estado triste e que
esse sentimento fez de mim um ser contente.
Perante tantas adversidades e
contradições, deixei que acontecimentos taciturnos e peripécias melancólicas
moldassem toda a minha índole e na maioria das vezes, descartei constantemente a
hipótese de tentar e querer mudar, porque pensei que ao fazê-lo, estaria
necessariamente a perder.
A impossibilidade de determinadas
circunstâncias fez-me ambicioná-las ardentemente, porque a perda acaba por nos
fazer com que valorizemos aquilo que não temos.
Este desejo de mudar reacendeu paixões
adormecidas, despertou o gosto pelo inexplorado, pelo arriscado, pelo
inexperimentado mas fiquei amedrontado, violentamente assustado.
A minha vida pediu gentilmente que
eu mudasse, que os meus sonhos se alterassem, que as minhas convicções se modificassem
e na tentativa de o fazer, quis continuar a ser fiel ao desenho de mim mesmo.
Preso às amarras da infelicidade e
cansado de tanta resistência, finalmente aniquilei as forças internas que me
impediam de mudar sem pestanejar. Parei de esperar pela felicidade sem esforços
e deixei de exigir do outrem aquilo que muitas vezes nem eu conseguia conquistar.
Sinto-me honradamente orgulhoso
por ter trabalhado arduamente para a construção da minha felicidade que outrora
julgava perdida, para que possa reinar sem pudor.
A essência de toda esta vontade
de mudar manifestou-se vincadamente e tornou-se numa grandiosa e maravilhosa
revelação para mim próprio.
Jamais temerei as contrariedades da
vida, pois a minha robusta e renovada alma impedirá qualquer desejo, qualquer
querença, qualquer tenção que tenha como primordial objetivo fazê-lo.
Onde foste parar, metade do meu
todo? Metade foi, metade ficou e o todo divido ficou… Sou um feito de dois?
Onde foi um, onde foi o outro? Repartido fiquei, fragmentado estou… Levaste-me
inteiro mas parte ficou, parcialmente fiquei, totalmente estou… Sou apenas
singular?
Sou grandiosamente colossal, um relâmpago nas
tenções abstratas e abrasamento incapaz de se abolir, uma chama ardente que jamais o vento consegue ora apagar ora estimular.
Sou como rumos extensos e
perduráveis, feito de afeições adjacentes com diversas capacidades de
sobrevivência. Sou o mapa das estradas desconhecidas, conhecedor de caminhos nunca antes passeados.
O universo é o meu areal,
desmedido nas paixões e deleitoso no amor que se dilui nas ondas que se desfazem nas falésias. Sou sereno
e terno, aquele que é a favor da subsistência do indefinido.
Sou uma ameaça para o enfado, um
eterno passageiro que o que mais aprova nas suas viagens é a emoção das
partidas, o seu trajeto e não o propósito.
Sou transparente, sou a expansão
e a flexibilidade em forma de ar, aquele que sopra calmamente capaz de arrepiar qualquer superfície humana, aquele que é inconstante e inesperado, sou uma
aragem e um vendaval.
Hoje é dia 14 de fevereiro de 2014 e este é o dia dos loucos
amantes, dos desmedidos apaixonados, dos eternos enamorados.
Hoje é dia 14 de fevereiro de 2014 e este é o dia dos amargurados
solteiros, dos tristes solitários, dos desesperados seres.
Hoje é dia 14 de fevereiro de 2014 e este é o dia dos singelos
amores, das vincadas paixões, dos marcantes enlaces.
Hoje é dia 14 de fevereiro de 2014 e este é o dia das calorosas
palavras, das vivazes aragens, das límpidas celebrações.
Hoje é dia 14 de fevereiro de 2014 e este é o dia…
Hoje é dia 14 de fevereiro de 2014…
Hoje é dia…
Hoje é simplesmente mais um dia em que tentarei presentear a nossa
singular, ímpar e inigualável união com momentos, gestos,
palavras que nunca serão esquecidos!
Deambulando num universo em que a
simplicidade é a mais condenada, em que a autenticidade é a mais invejada, em
que o miserável é o mais dependente e em que a moral é a mais nefasta, consegue-se
absorver um odor que transporta insensibilidade e mediocridade. Repleto de
falsa modéstia e de vazias ações, o ser contemporâneo, desprovido de sensatez, tende
a saber menos do que pensa e tende a errar mais do que calcula. Ele permanece pouco
neste universo e nem se apercebe que tem pouco tempo de deixar de ser precoce, impetuoso,
insignificante, invejoso. Não tem tempo para testemunhar determinados
acontecimentos, não tem tempo para presenciar certos feitos e apenas sofre, inveja
e, erra o insuficiente para aprender. A inveja provém do ser que ambiciona a
felicidade alheia, as virtudes insaciáveis, nutrindo um sentimento tão perverso
que nem tem tempo para se aperceber que é tão triste carregar tamanha repugnância,
tamanha melancolia, tamanha dor. Tentando encontrar um responsável para acarretar
com as consequências das suas errantes ações, tentando engaiolar o progresso e
o sucesso do outrem para que se possa engrandecer, tentando encobrir a
frustração que sente para que os seus heróis não o impeçam de caminhar,
tentando desejar o fracasso dos mais frágeis, jamais encontrará a verdadeira
essência de um ser genuíno, puro e autêntico.
Entre as cortinas desse ano tão acarretado e apetrechado de dissemelhantes acontecimentos, entrevejo a anunciação fresca do seu irmão mais novo, pronto para começar a descortinar uma renovada aventura. Infiltrar-se-á sem permissão e debruçar-se-á na estranheza do seu desconhecido objectivo, nunca podendo apelar ao auxílio do seu ilustre mestre, pois quem tem que subir ao trono e reinar é ele, o novo e inocente ano. Seguirá, certamente, as pegadas do seu irmão mas terá que desenhar outras, mesmo que recorra à analogia do mesmo, desinibindo-se e despindo-se de medos e temores pois ninguém o censurará. Ingénuo e amedrontado, inexperiente e aprendiz, desejoso de anseio, tentará ressalvar os bons e os maus feitos que o seu envelhecido irmão lhe cedeu, fazendo com que ambas as contrariedades se convertam em memórias infinitas, diluindo-se, então, numa navegação de aprendizagem, cheia de malas e bagagens. Quando ele nascer, quando ele desabrochar e souber que todos dependem dele, com tamanha responsabilidade, mergulhará nos desejos da humanidade universal e decerto que encontrará o meu: pontapear choros tristes e acautelar risos contentes, vincando a alegria de poder viver despreocupadamente, sendo feliz infinitamente.
Enlaço-me às lágrimas do gracioso pranto e dele solta-se fantasias tão cheias de pecados. Os seus ténues e delicados pingos fazem palpitar o meu desalentado coração mas um lúgubre arrepio cinge-se ao meu rosto frio e murmura atrozes sensações. Impede-me de caminhar livremente rumo aos meus arrefecidos sonhos, fazendo com que caminhe sem calcar o chão, sem deixar pegadas. Solta-se um silêncio embebido numa muda realidade e grita dentro de mim, vozeia por um regresso, um reencontro, um entendimento… Por um gesto que seque tão humedecido rosto!
Fragmentos de água límpida jorram do meu melancólico e amargurado olhar, com sonhos e fantasias mergulhados num pranto cristalino e sossegado que se fazem vincar numa noite tão desamparada. Olhar desgostoso e afadigado de quem tanto já sofreu, testemunha um acontecimento que morreu mesmo antes de ter nascido, pois já viveu mais de mil tormentos de forma tão serena e muda. Sentimentos de angústia voltaram a rebentar e estão determinados a serem embalados nos braços fortes de uma reminiscência, sem que estes tropecem nos vazios pedaços que o coração emite. Oh sonhos voltem, deixem-me sorrir e limpem essas lágrimas porque esse olhar vive morrendo e eu… Morro, vivendo em vós!
Tento fazer do amor um feito aquém de qualquer analogia e sei que é tão árduo fazê-lo. Nunca ninguém teve a ousadia de me descrever o quão difícil é estar preparado para começar a procurá-lo mas quando parei mesmo antes de começar, ele veio ao meu encontro. Mas o quanto tropecei na arduidade de o encontrar. Nunca teorizei sobre a natureza complexa do amor, apenas segui o destino dos meus sentimentos, dos meus anseios, outrora. Cantando desafinadamente encontrei a melodia certa que se encaixa perfeitamente no meu coração e agora deixo que toda a minha expressão se deleite na guitarra da nossa tão conhecida canção. Manifesto-me hodiernamente sem nunca me preocupar com a sua concreta definição mas sim com a forma que lhe posso dar. Tentarei cuidar dele com as minhas mãos jardineiras, cuidando da voz que o testemunha vincadamente. Amo-me o suficiente para poder dizer que amo outra pessoa e apenas quero presentear-lhe com uma única verdade que não carece de demonstrações testemunhais, de presenças exigidas, apenas espero que se amplie com as ausências significativas. AMO-TE!
Num desfilar de acontecimentos desiguais que estão debruçados numa passadeira rolante, observo todo o movimento que se faz cingir a uma biografia pictórica e conjuntamente vital. Acontecimentos peculiares que se enlaçam à nossa memória tão sábia fazem parte da nossa biografia que, se traduzindo num vínculo autêntico, acarreta consigo todo o nosso historial, aquele que nos faz embeber numa nascente tão límpida, tão cristalina, tão translúcida. Nela consigo avistar todos os nossos desejos mergulhados de forma tão verídica, como reflexo dos nossos inquietantes anseios e simultaneamente consigo avistar as nossas imagens contíguas nesta água que se faz encher de felicidade fantasiada. A felicidade delicia-se nos nossos rostos tão joviais que, cobertos de tão puras prosperidades, encantados ficam com o vacilante futuro que se faz avizinhar. O requinte da nossa singularidade é tangível, é palpável, aquém de qualquer iniquidade e o primor da sua estrutura tão fortemente inacessível, alastra-se numa vaidade contagiante a todos os amantes. Estaremos perto da perfeição?
Quando olho para aquela fotografia, aquela que provém de uma eventualidade tão certa e tão majestosa, o meu olhar solta sorrisos maravilhados e encantados. Quando olho para aquela fotografia, aquela que testemunha um passado tão presente, a minha mente fica rendida à voz da saudade. Quando olho para aquela fotografia, aquela que presencia um gesto tão terno e tão lúcido, as minhas mãos esguias percorrem todo aquele cenário verídico. Quando olho para aquela fotografia, aquela que emana os aromas de um tão harmonioso acontecimento, o meu nariz inala toda aquela fusão de cheiros tão realmente lembrados. Quando olho para aquela fotografia, aquela que reproduz um cenário tão inolvidável, os meus lábios saboreiam aquele toque tão fortemente ténue. Quando olho para aquela fotografia, aquela que acarreta uma visão tão muda mas tão percebida, os meus ouvidos debruçam-se naquele silêncio tão ouvido, tão admirável.
Sinto vergonha de mim por ter sido derrotado pelas virtudes dos meus vícios e pela ausência da sensatez no julgamento da verdade.
Tenho vergonha de mim por ter sido negligente nos caminhos eivados até ao desrespeito para com outrem.
Sinto vergonha de mim pela apatia em ouvir, sem despejar o meu verbo preferido as vezes que sempre desejei.
Tenho vergonha de mim pelas tantas desculpas pronunciadas pelo meu orgulho e minha vaidade.
Sinto vergonha de mim por ter tanta falta de humildade para autenticar um engano cometido por mim.
Tenho vergonha de mim por conter tanta teimosia em esquecer a antiga posição de quem sempre contestava.
Sinto vergonha de mim por patentear uma impotência envolta de uma grande dissimulação, da inexistência de energia, das minhas deceções e do meu cansaço arcaico.
Tenho vergonha de mim por ter enrolado a minha mente na pecaminosa mágoa de pensamentos alheios.
Sinto vergonha de mim por ter triunfado, mesmo sem prosperar a injúria, de deixar crescer a iniquidade dentro de mim.
Tenho vergonha de mim por pensar que foi tão árduo agigantar-me ao longo dos anos, e numa simples noite, foi tão fácil tornar-me tão diminuto.